terça-feira, maio 23, 2006

Estilhaço[s] reúnem fragmentos da nova dramaturgia mundial


Uma peça servo-croata, duas peças inglesas, duas brasileiras e uma norte-americana compõem esse painel fragmentado, em peças que funcionam como hiper-textos que podem ser lidos em conjunto ou de maneira isolada. Ilhas de um mesmo arquipélago, estas peças possuem em comum o fato de todas terem sido escritas nos anos 90. Esse é o panorama que serve de conceito para a construção do espetáculo Estilhaço[s], direção de Celso Júnior e montagem de formatura dos alunos de graduação em Interpretação Teatral da Escola de Teatro da UFBA, com estréia nesta terça-feira, dia 30 de maio, às 20h, no Teatro Moliére (Ladeira da Barra), com entrada franca.

O nome do espetáculo é Estilhaço, ou Estilhaços. Este título foi escolhido tendo como referência o caráter fragmentado do espetáculo, que reúne, de maneira quase caótica, peças de curta duração de origens diversas, buscando um sentido através da superposição de idéias e da evocação das imagens. Desta maneira, trazem uma atmosfera apocalíptica, em sua maneira de enxergar as coisas do mundo.

Cada fragmento, cada estilhaço, faz parte das sensações que estes autores tinham de que o mundo estava prestes a explodir. E explodiu pouco tempo depois.


Título: ESTILHAÇO[S]

Direção: Celso Jr.

Elenco: Isabela Silveira, Felice Souzatto, Catherine Oppenheimer, Fernanda Beling, Thaís Mensitieri, Sérgio Mício e Fabio Ferreira (ator convidado).

Local: Teatro Moliére (Ladeira da Barra)

Datas: De 30 de Maio a 15 de Junho/ 2006, sempre de 3ª a 5ª-feira

Horário: 20h

ENTRADA FRANCA (senhas distribuídas diariamente a partir das 19h)




Sinto que vai ser um pouco complicado fazer um comentário sobre o espetáculo "Seu Bomfim" (solo de Fábio Vidal, em cartaz às sextas e sábados no Teatro ICBA, às 20h, até o dia 17 de junho). Acho que pelo fato de ter assistido umas quatro vezes, e a cada vez mais me ver envolvida com a narrativa e com a atuação do intérprete.
Rasgar seda não é tarefa que me agrada. Então, eis um têntame de técnica e de crítica.
Vidal retira da narrativa literária a figura de Seu Bomfim, o narrador do conto A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa. Encarna as palavras cheias de dramaticidade e crueldade de Rosa, criando um personagem vigoroso, real, verdadeiro e crível. Encarna um daqueles sertanejos, escondidos por de trás de roupas sujas, fala truncada de palavreado tão nosso e tão novo.
Palavras de crueldade artaudiana. Sim, crueldade de radicalidade. Seu Bomfim mergulha num universo de radicalidade de vida, de intensidade de vida. Da malignidade, do mistério, da loucura, dos desejos, da animalidade, dos medos, da vida. Tudo pulsando nas veias daquele homem sem uma das pernas e cheio de memórias.
Corpo de crueldade. Porque Vidal mergulha numa experiência corporal profunda de pesquisa e de construção de um personagem crível, verossímil e impecável. Seu corpo transmutado é de uma dura poesia. A precisão física de Vidal demonstra o apuro técnico tão requisitado por Artaud, que clama por um ator atleta das emoções. Completamente consciente de seus limites e disposto a superação. Completamente técnico. Completamente consciente das emoções e de suas chaves de abertura.
Vidal realiza um rico jogo com as palavras, repetindo, cansando, fixando, pontuando o significado daquilo que interessa. Cada repetição não chega enfadonha, mas sim resignificada, fortalecendo as idéias, as ânsias daquele homem mergulhado em sua própria solidão.
E assim é que é a pergunta do espetáculo: pra que tanta solidão? Pra que tantos dias de dor nessa terra árida ou sufocante de tanta chuva? Que fazemos aqui, errantes, sonâmbulos, multilados e cegos?
Apenas a experiência crua de viver e se entregar pode oferecer respostas ou quem sabe novas possibilidades de pergunta.
E o sertão é o mundo. Ser tão é o mundo. Ora se é.

quarta-feira, maio 03, 2006

SEU BOMFIM

Comemorando seis anos de estrada, o espetáculo SEU BOMFIM, inspirado no conto "A terceira margem do rio" de Guimarães Rosa, retornará aos palcos baianos. A peça reestréia no Teatro do ICBA (Corredor da Vitória), no dia 5 de maio e faz temporada às 20h, sextas e sábados, até o dia 20. Após percorrer 22 cidades brasileiras e receber diversos prêmios em várias categorias, a peça volta a Salvador e inicia nova temporada.

A encenação mostra a história de um contador de "causos" chamado SEU BOMFIM, um velho homem do sertão brasileiro, que narra acontecimentos do seu passado, onde rememora pessoas e locais; expõe pensamentos sobre questões diversas (morte, vida, dualidade do ser, bem e mal, Deus,tempo). O velho surge contando um episódio vivido por ele sobre um homem que deixou sua família e sua vida para se colocar numa canoa, no meio de um rio, de onde não sai.

Para o ator e criador Fábio Vidal, o personagem é "um grande questionador da vida, que busca respostas que tenta encontrar sua identidade cultural e corporal, numa tentativa desenfreada de resgatar suas perdas e encontrar um sentido que norteia sua vida". Suas histórias, seu humor, questionamentos e ações levam o espectador a adentrar na sua psicologia colocando em evidência seu drama humano pessoal que se encontra atrelado a uma cultura sertaneja – nordestina – brasileira.

Amor, morte, vida, família, pecado, culpa, alegria, saudade, tempo, relação, misticismo, religião, medo, ódio, devastação são temas abordados nesse espetáculo que expõe um indivíduo no seu interior, intimidade e solidão. Tudo dentro da atmosfera de Guimarães Rosa, cheia de crueldade e poesia.

Vidal constrói a montagem utilizando poucos elementos externos e baseando-se na arte do ator, esse espetáculo ganha vida através da exploração de possibilidades expressivas, narrativas-sonoras e corporais, que prevê a existência e a crença numa realidade metafísica e a tentativa de contato com o indizível, num texto que surge da experimentação prática, de onde foi formada a estrutura dramática.

O espetáculo já percorreu de norte a sul do país – de Belém a Blumenau, foi reconhecido e aclamado pelo público e crítica por onde passa. Motivos que o fizeram continuar na estrada até o presente momento, levando para o povo Brasileiro a ótica e o comportamento desse louco – vidente chamado SEU BOMFIM. “E ói que o Sertão é o mundo”