quarta-feira, outubro 31, 2007

Crise sem apogeu

Então, tá na capa da revista. Tá no jornal. Dizem que a Bahia está vivendo uma crise na cultura. Aí eu me pergunto: crise? Crise, para mim, até onde sempre soube entendi, representa um declínio de alguma coisa. Uma ruptura, uma quebra, que promove uma série de acontecimentos de ordem negativa.

No Prêmio Braskem desse ano, os espetáculos vencedores de muitas categorias não contaram com patrocínio. Nem apoio. Foram feitos com pequenos apoios, com recursos tirados dos bolsos dos elencos, das direções. Minha família mora no Pelourinho. A reforma foi feita à forceps. Famílias ludibriadas, recebendo indenizações pífias, muito aquém do tempo de vida nas casas. Os bares do Pelourinho estão às moscas há alguns verões. Aliás o Pelourinho só é entretenimento para turista e no verão. Não há uma programação voltada para os baianos e não é coisa de 2007. Os editais para cultura aconteciam bem vagarosamente e de caju em caju, se bem me lembro. Também nunca tive notícia de uma conferência discutindo cultura. Ou do Sr. Mário Kertez versando sobre o assunto em seu programa de rádio. Nem da TV Bahia preocupada com algo além da cultura axé, que é do que ela entende. Ah, sim, cultura axé. Essa é a única música que a Bahia produz, decerto, porque é só para onde os dinheiros do Fazcultura iam. Era para o axé e seu carnaval privatizado que iam recursos da Emtursa. Na Bahia, músico que quer respirar outros gêneros musicais, fazer um trabalho autoral, de qualidade, tem que se bancar, ou arranjar outro emprego...
Esse sempre foi o quadro. Qual é a crise?
Crise é buscar fiscalizar, fazer auditorias em certos espaços? Buscar agir na legalidade? Propor uma política cultural diferenciada, para os baianos, descentralizada, compartilhada e discutida por outros baianos além os dos séquitos que sempre tiveram financiamentos? A única emissora de tv que cobriu a Conferência de Cultura mostrou gente de toda natureza, classe social e região da Bahia construindo uma proposta de política cultural. Onde estavam aqueles que dizem tanto fazer pela cultura dessa terra? Por que não sentaram lá para propor um caminho novo? Ou já que não desejam o novo, por que não propuseram a cultura festiva carlista do axé? A sua continuidade. Que é do que gostam...
E o pior de tudo é ver órgãos de imprensa se prestando a um papel vergonhoso, tendencioso e anti-ético porque não dizer... Porque é legítimo sempre pensar na manutenção das hegemonias? Dos grupos políticos que sufocam as maiorias? Por que os que alardeiam defender os direitos do povo não conseguem limpar os olhos míopes e turvos dos seus próprios interesses? Difícil ter a honestidade de assumir que só defendem a si mesmos, aos seus próximos...
Triste imprensa baiana. Eterna triste Bahia.

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