sábado, julho 07, 2007



Então, há alguns posts atrás (o que equivale a quase um ano), eu escrevi um comentário sobre o espetáculo "Canteiros de Rosa". Saira do teatro com a leveza de ter visto Guimarães Rosa encenado de uma forma delicada, poética. E ao mesmo tempo pensava, como gostaria de fazer aquele espetáculo...certos desejos são engraçados. Há que se ter cuidado com o que se deseja, pois vira e mexe, acontece.
Então, numa tarde de domingo recebi o convite para substituir uma das atrizes e enfrentar a maratona de apresentações Nordeste afora. Sem pensar muito aceitei. Meio inconseqüente, meio empolgada. Tanto tempo longe do teatro, não ia ousar dizer não. E da inconseqüência se fez ensaio, viagens, aeroporto, coxia, malas, caixas, fita crepe. Alguns momentos de arrependimento: não sei mais ser atriz, desafino, erro a marca, não consigo trabalhar a cena, saudade de minha cama, vontade de ver minha mãe...Momentos de alegria: a luz bonita do arco íris, a voz de Márcia cantando a cena de Sorocô, a destreza de Cláudio subindo andaimes afora, a dedicação de Jacyan cuidando para que tudo saisse da melhor forma possível, tantas e tantas coisas positivas que não saberia enumerar.
Mas enfim, não vim fazer um relato emocionado ou coisa parecida. Pensei em escrever sobre a vida de artista viajante. A possibilidade de deslocar o olhar de onde é seu chão pra ver outras terras. E sim, parece que embora fértil, doce e vicioso, o terreno de onde brota o teatro é árido em toda parte. Sim, árido é mesmo a palavra.
Na primeira parada, encontramos o segundo maior teatro da cidade, Atheneu, um pouco longe das expectativas iniciais. Um belo teatro, um equipamento que poderia estar potencializando a cultura localmente, em condições de abandono e descuido. Em Alagoinhas, o Centro de Cultura que guarda diversos espaços que poderiam ser propícios para diferentes linguagens artísticas agoniza. Matagal, abandono, falta de refletores, sujeira...Lastimável.
Subindo o Nordeste, chegamos ao Rio Grande do Norte. Em Mossoró e Natal, nos deparamos com duas estruturas invejáveis. Teatros bem equipados e com uma rica infra-estrutura. Porém, agora o fantasma é a platéia, tão difícil de ser atraída para as salas de teatro. Depois de muito esforço e inúmeras visitas a escolas, faculdades, nos deparamos com o primeiro grande público. 450 pessoas lotando aquele teatro modelo francês. Público ávido de riso, mas que também se rendeu às delicadezas da montagem. Na última parada, a vontade de criar espaços para teatro, não raro, propõe que o ambiente da cena não seja dos mais adequados: espaço exiguo, falta camarim, se aperta daqui, ajeita de lá...e o público pouco vem.
E em toda parte, pelos cartazes das peças que já estiveram em temporada, faço a constatação de que o riso é quem vinga. A comédia seduz e é a dona da bola. Mas que caminho aqueles que querem outros caminhos podem seguir para ter platéia?
E em cada parada, um jeito de fazer produção diferente. Uma realidade nova e a constatação de que não existem fórmulas certas. Em comum, a constatação que a estrada para o ator é o terreno do aprendizado, das supresas, das descobertas. Acústica boa, acústica ruim. Coxia, não coxia. A cada apresentação um espaço novo para se adaptar, para se entender. E essa é a graça da arte do ator viajante (mambembe?).
Em comum, em todas as casas em que estivemos, carinho, respeito e receptividade. Ao fim dos aplausos, a constatação do dever cumprido e de alguns corações tocados.

2 comentários:

Edna Moda disse...

parabéns pelo seu blog que foi indicado no blog que indica blogs no tema teatro http://ednamoda.blogspot.com/

Anônimo disse...

E na literatura não é diferente. É prediso insistir, insistir e insistir sempre.
Cadinho RoCo