Tive uma aula hoje sobre Brecht. Mais uma das muitas que já tive. Mais uma das muitas que ainda terei. Então, do fragmento da aula que cheguei, me inspirei para escrever algumas linhas do que pode ser síntese deste que é consensualmente o homem do Teatro do Século XX. Haverá um para o Século XXI. Queira Deus...
Somos indivíduos devotados ao supérfluo. É o que Brecht diz, e ao contrário do que poderia se pensar, não com ressentimento, não como uma divergência. Teatro é supérfluo. E a vida devotada para o teatro é uma vida de prazer, de um outro nível de diferente das outras práticas. O teatro serve ao gozo, ao prazer. E este é o seu principal compromisso. O teatro é um artefato do prazer.
Decerto que me choquei, ao ler isso em Brecht. Mas está lá. Nos seus escritos teóricos.
Arte não é uma fatia da realidade, não é reprodução da realidade. Mas sim uma construção da realidade. A arte não está posta para refletir uma igual realidade, mas para desnaturalizar o cotidiano, para desnaturalizar a realidade. E como tal, a arte é essencialmente estranhamento.
O objetivo da arte não é produzir o perfeitamente igual ao real, mas pegar o cotidiano, o real levar ao palco e desfamiliarizar essa realidade ali reconstruída, posta. Se alcança o novo justamente a partir disso: da desfamiliarização da realidade.
O teatro de Brecht não quer então um reconhecimento, mas sim proporcionar uma nova visão dos objetos. Ele não quer a fatalidade, mas a capacidade de transformação, que vem desde o espectador, que perde a muleta da familiaridade com os objetos e ganha o dever de entrar no jogo, um jogo de construir sentidos, construir suas lógicas.
Estranho Brecht porque me deparei com um Brecht menos ortodoxo e mais vivo de contradição, de dualidade, de dialogicidade. Um Brecht devotado ao prazer e consciente da nossa alma supérflua.
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