Vou falar hoje sobre uma peça que quem viu, viu, quem não viu, talvez não veja mais. Inclusive, só tenho falado sobre peças/espetáculos de trajetória bastante efêmera.
As tergiversações são as seguintes.
Nesse último sábado, fui a Sala 5 da Escola de Teatro assistir ao espetáculo "Luz", direção de Marcelo Brito, figura que conheço de vista e por poucas palavras, mas que tenho uma imagem de irreverência formada.
Ao chegar atrasada na escola, já via a movimentação dos atores acontecendo. O Bordel UFBA, com "prostitutas" oferecendo seu produto nas janelas e marquises da faculdade. A casa acadêmica profanada. Alguns atores misturados ao público reagiam de formas diversas: o bêbado, a crente, o transeunte. Na subida para a sala, atores mascarados faziam as vezes de doenças sexualmente transmissíveis. Doenças essas que eram apresentadas pelo médico e ex-frequentador da "casa de tolerância", que fazia das suas descobertas científicas um meio de ganhar dinheiro.
Durante o espetáculo, me percebia me divertindo, rindo do espetáculo proposto. Uma grande brincadeira, uma grande sacanagem. Mas na saída, ocorreu-me a pergunta: e Brecht com tudo isso? A pergunta veio porque de tanto rir com a peça, em momento algum eu cheguei a refletir sobre o problema ali proposto. E em se tratando de Brecht, eu sempre me sinto no dever e direito de pensar além da superfície.
Olhando tecnicamente, consigo rever e perceber um tanto do encenador alemão presente na peça. Mas no que se refere a recepção não consegui em mim sentir as perspectivas brechtiana. E isso me deixou um questionamento. Um questionamento sobre montar um Brecht. Sobre dialogar com esses cânones aí postos. Brecht tem regra de ser? As coisas têm que ser de acordo a pressupostos? A padrões? E toda subversão é válida?
Não cheguei a conclusão alguma. Essas perguntas todas me façam.
Da peça, posso dizer que me diverti. E é essa a minha justa questão...
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3 comentários:
Minha querida para te explicar minha montagem "LUZ!!!", apresentada na Sala 05 da Escola de Teatro, precisaria de mais espaço, mas vou utilizar um trecho de um comentário de Brecht utilizado por você em seu blog: "Somos indivíduos devotados ao supérfluo. Teatro é supérfluo. E a vida devotada para o teatro é uma vida de prazer, de um outro nível de diferente das outras práticas. O teatro serve ao gozo, ao prazer. E este é o seu principal compromisso. O teatro é um artefato do prazer"...É isso o tetro para mim, sem gozo não rola. Os Cãnones servem pra isso, para serem atualizados por nós "que somos jovens" e eu como jovem não posso montar um Brecht como um professor ou um diretor famoso e conceituado montariam. Eu tenho um compromisso com o erro, com o cáos, o acontecimento, o trash, o grotesco e poucas pessoas reconhecem isso em Brecht, um velho alemão cheio de posições políticas empoeiradas para o tempo dos jovens de hoje, então quando lí o texto "Lux in Tenebris" eu falei: porra, este texto pode ter a minha cara, pode falar de mim e pode ser Brecht porque é um texto dialético, político, capitalista, atual...Hoje estamos "todos" (?) nos vendendo ao inimigo por não conseguirmos combatê-lo...E eu me encontrei com Brecht nesta montagem e ele parecia estar feliz por eu não ter repetido 100% o que ele já havia feito, eu joguei um pouco de cor e rebeldia na obra morta...Agora vou terminar com a frase dele que eu utilizei no projeto para justificar minha loucura: "É preciso defender o teatro épico contra qualquer suspeita de se tratar de um teatro profundamente desagradável, enfadonho e fatigante". Então se vc se divertiu é porque nós conseguimos...Viva o Brecht que nasce em nós a cada dia...Jovem e alegre...
Ai, e eu que não assisti?
Minha casa me suga, às vezes.
outra:
tio Brecht ficava petrificado quando isso aocntecia, mas era comum o público sentir isso das peças dele. isso que você sentiu. Nada de errado, então. Mas, até em Brecht, teoria é uma coisa, prática é outra. Uma pena eu não ter visto, queria muito. beijos
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